quarta-feira, 2 de março de 2011

Insônia...


Noite passada, estava eu sem conseguir dormi, rolando pela cama, quando decidi dá uma volta pela casa.

Levantei e, com as luzes todas apagadas, caminhei em direção a porta do meu quarto, dei passos curtos e minuciosos, pois o breu tomava conta do ambiente... Aos poucos minha visão foi acostumando com a escuridão e já dava para enxergar o chão da sala de estar, então continuei a caminhar lentamente e fui em direção a cozinha quando escuto bem de longe o som de mastigadas, mas não era um mastigar comum, era algo do tipo roendo, só que lentamente. Minha curiosidade aumentava a cada passo que dava e o som aumentava na mesma intensidade quando de repente me deparo com uma figura sentada na mesa de jantar, a degustar, vagarosamente, uns biscoitos cream-craquer, que tinha deixado mais cedo ali na mesa. Era um ser de olhos avermelhados, pelos acinzentados, calda fina e longa, usava bigode e um chapéu a lá mordomo de filmes ingleses, tinha dois dentes pretuberantes e segurava uma bengala em seu braço direito.

Ao me ver, o sujeito tomou um susto e soltou o biscoito, no mesmo tempo em que fitara os olhos em mim, como quem estivesse com medo de minha presença, foi quando falei:
- Oi, tudo bem? O que faz ai sentado à minha mesa a esta hora?

Ainda, meio chocado e com as patas a tremer, respondeu com voz aguda e trêmula:
- Tudo e o senhor? Eu estava com fome e decidir sentar à mesa a essa hora, me desculpe se te acordei...

Puxei outra cadeira e sentei-me ao seu lado e disse, com ar de desdem...
- Hora... Eu estou ótimo, tirando essa insônia horrível que me persegue, estou ótimo e o senhor não me acordou, como disse, estou com insônia... Quer uma xícara de café ou chá?

O indivíduo, já mais calmo e já a roer lentamente sua bolacha, respondeu:
- Sim, sim, um pouco de chá por favor.

Levantei e fui até a prateleira e peguei uma xícara e uma colher, fui em direção ao fogão ascendi uma boca e coloquei água no bule para esquentar, nesse meio tempo perguntei ao rapaz qual era o seu nome.
- Me chamo mickey e o senhor?

- Eu me chamo Pedro Ivo, e dei um sorriso de brodagem para o rato.

- Sempre te vejo vendo tv ou no computador, mas sempre a noite, você faz o que durante o dia? Perguntou o rato.

- De dia eu trabalho, com computadores, montando, dando assistência as pessoas que não entendem muito e por ai vai e a noite eu faço faculdade, e o senhor, o que faz da vida? Qual sua idade?

- Eu?! Hummm, então, de dia eu quase sempre estou dormindo, geralmente acordo a noite para procurar comida, para mim e para minha familia, você já deve ter visto minha familia por aqui ( ele já usava o pronome "você" ao invés de "senhor" ).

- Sim, vi sim, sempre vejo seu filho passeando pela minha cozinha, como ele se chama e qual a idade dele?

- Ahh, aquele menino não tem jeito, o nome dele é Willi e ele tem 6 meses, você sabe que nós ratos vivemos em media 2 anos, aqui no Brasil né? Eu tenho 1 ano e 3 meses :D

- Hum, legal, então você só tem esse filho e sua esposa como se chama?

- Minha esposa se chama Minnie, ele tem 1 ano de idade e tínhamos mais 2 filhos, mas eles comeram algo envenenado e morreram :/

- Meus pêsames, mas então, você sempre viveu por aqui né?

- Sim, meus pais moravam aqui, eu nasci aqui e não pretendo me mudar, a comida não é lá essas coisas mas a gente sobrevive muito bem por aqui :D

No meio tempo da conversa a água já estava fervendo e eu me levantei pra preparar o chá e depois de pronto servi.

- Mickey, vou fumar um cigarro, tá afim?

Ele nem respondeu e já foi levantando com sua bengala e a xícara na outra mão, fumamos uns três cigarros enquanto conversávamos e foi quando o sono veio e eu me despedi dele e fui para minha cama, ao me deitar fiquei me perguntando sobre a comida que comia todos os dias, eu achava que me alimentava bem e o rato levantou essa questão que até hoje martela na minha cabeça, será que o que eu como é mesmo bom?