Noite passada, estava eu sem conseguir dormi, rolando pela cama, quando decidi dá uma volta pela casa.
Levantei e, com as luzes todas apagadas, caminhei em direção a porta do meu quarto, dei passos curtos e minuciosos, pois o breu tomava conta do ambiente... Aos poucos minha visão foi acostumando com a escuridão e já dava para enxergar o chão da sala de estar, então continuei a caminhar lentamente e fui em direção a cozinha quando escuto bem de longe o som de mastigadas, mas não era um mastigar comum, era algo do tipo roendo, só que lentamente. Minha curiosidade aumentava a cada passo que dava e o som aumentava na mesma intensidade quando de repente me deparo com uma figura sentada na mesa de jantar, a degustar, vagarosamente, uns biscoitos cream-craquer, que tinha deixado mais cedo ali na mesa. Era um ser de olhos avermelhados, pelos acinzentados, calda fina e longa, usava bigode e um chapéu a lá mordomo de filmes ingleses, tinha dois dentes pretuberantes e segurava uma bengala em seu braço direito.
Ao me ver, o sujeito tomou um susto e soltou o biscoito, no mesmo tempo em que fitara os olhos em mim, como quem estivesse com medo de minha presença, foi quando falei:
- Oi, tudo bem? O que faz ai sentado à minha mesa a esta hora?
Ainda, meio chocado e com as patas a tremer, respondeu com voz aguda e trêmula:
- Tudo e o senhor? Eu estava com fome e decidir sentar à mesa a essa hora, me desculpe se te acordei...
Puxei outra cadeira e sentei-me ao seu lado e disse, com ar de desdem...
- Hora... Eu estou ótimo, tirando essa insônia horrível que me persegue, estou ótimo e o senhor não me acordou, como disse, estou com insônia... Quer uma xícara de café ou chá?
O indivíduo, já mais calmo e já a roer lentamente sua bolacha, respondeu:
- Sim, sim, um pouco de chá por favor.
Levantei e fui até a prateleira e peguei uma xícara e uma colher, fui em direção ao fogão ascendi uma boca e coloquei água no bule para esquentar, nesse meio tempo perguntei ao rapaz qual era o seu nome.
- Me chamo mickey e o senhor?
- Eu me chamo Pedro Ivo, e dei um sorriso de brodagem para o rato.
- Sempre te vejo vendo tv ou no computador, mas sempre a noite, você faz o que durante o dia? Perguntou o rato.
- De dia eu trabalho, com computadores, montando, dando assistência as pessoas que não entendem muito e por ai vai e a noite eu faço faculdade, e o senhor, o que faz da vida? Qual sua idade?
- Eu?! Hummm, então, de dia eu quase sempre estou dormindo, geralmente acordo a noite para procurar comida, para mim e para minha familia, você já deve ter visto minha familia por aqui ( ele já usava o pronome "você" ao invés de "senhor" ).
- Sim, vi sim, sempre vejo seu filho passeando pela minha cozinha, como ele se chama e qual a idade dele?
- Ahh, aquele menino não tem jeito, o nome dele é Willi e ele tem 6 meses, você sabe que nós ratos vivemos em media 2 anos, aqui no Brasil né? Eu tenho 1 ano e 3 meses :D
- Hum, legal, então você só tem esse filho e sua esposa como se chama?
- Minha esposa se chama Minnie, ele tem 1 ano de idade e tínhamos mais 2 filhos, mas eles comeram algo envenenado e morreram :/
- Meus pêsames, mas então, você sempre viveu por aqui né?
- Sim, meus pais moravam aqui, eu nasci aqui e não pretendo me mudar, a comida não é lá essas coisas mas a gente sobrevive muito bem por aqui :D
No meio tempo da conversa a água já estava fervendo e eu me levantei pra preparar o chá e depois de pronto servi.
- Mickey, vou fumar um cigarro, tá afim?
Ele nem respondeu e já foi levantando com sua bengala e a xícara na outra mão, fumamos uns três cigarros enquanto conversávamos e foi quando o sono veio e eu me despedi dele e fui para minha cama, ao me deitar fiquei me perguntando sobre a comida que comia todos os dias, eu achava que me alimentava bem e o rato levantou essa questão que até hoje martela na minha cabeça, será que o que eu como é mesmo bom?